Com as descobertas de petróleo nas camadas do Pré-Sal das bacias marginais brasileiras, mais uma vez a maravilhosa e complexa geologia do Estado do Rio de Janeiro tornou-se alvo de atenção. Desta vez, o foco se voltou para as lagunas hipersalinas fluminenses que apresentam condições especialmente propícias para desenvolvimento de colônias de cianobactérias, produtoras de rochas carbonáticas semelhantes às do Pré-Sal.
Em 2009, para estudar estas singularidades, foi firmado entre a PETROBRAS e o ETH Zürich, um convênio de cooperação, o Projeto PETHROS. Estabeleceu-se, também, uma parceria com o DRM-RJ, por meio do Projeto Caminhos Geológicos, no sentido de sinalizar estas lagunas. O objetivo foi o de protegê-las. Afinal, “além de ser importante em si mesma, a preservação de tais geossítios assegura, para as gerações futuras, o direito de conhecê-los” (Guilherme Estrella – Diretor da PETROBRAS, comunicação oral).
Com base nesse pensamento e em iniciativas já existentes de várias entidades acadêmicas, governamentais (nos três níveis), privadas e ONGs que visavam à preservação da riqueza geológica do litoral do Estado do Rio de Janeiro, se fortaleceu a idéia do GEOPARQUE COSTÕES E LAGUNAS, que abriga, além destes corpos d´água, as rochas que guardam a evolução do Gondwana a partir de afloramentos de importância internacional, com características essenciais para o entendimento do fechamento e quebra deste paleocontinente.
Desde 2010, a proposta da criação do Geoparque tem sido intensamente discutida e culminou com a indicação de uma área que se estende desde o Município de Maricá até o de São Francisco de Itabapoana, abrangendo, 16 municípios e uma área de aproximadamente 10.900 km2, com 1.585.000 habitantes (Censo do IBGE – 2010).
O Geoparque Costões e Lagunas do Estado do Rio de Janeiro compreende área com evolução geológica singular (Mansur et al., 2010), envolvendo mais de 2 bilhões de anos de história geológica. Na região, podem ser observados outros geossítios que exibem rochas de natureza ígnea e/ou metamórfica, campos de dunas, restingas, falésias, cordões litorâneos, deltas e manguezais.
Nos costões predominam litotipos metamórficos, para e ortoderivados, que registram a evolução tectônica desde o Paleoproterozoico até a Orogenia Búzios, no Cambriano, e granitos ordovicianos. Envolve a área continental adjacente às bacias sedimentares de Campos e de Santos, inclusive o alto estrutural de Cabo Frio, que as separa, e estruturas geológicas como grabens e falhas. Ocorrem diques toleíticos mesozoicos e corpos alcalinos plutônicos a subvulcânicos paleocênicos.
Unindo os costões, os sedimentos são de idades, origens e composições diversas, desde continentais do Mio-Plioceno, fluviais, marinhos, lagunares e eólicos do Pleistoceno ao Holoceno.
Na região, ocorre um microclima semiárido gerado por ressurgência sazonal de águas frias da Corrente das Malvinas, na costa de Arraial do Cabo, o que permitiu o desenvolvimento de flora e fauna endêmicas. Este clima também possibilitou o desenvolvimento de lagunas hipersalinas com características físico-químicas, sedimentológicas e principalmente biológicas únicas, em que a presença de estromatólitos e dolomita recentes, originados da ação de bactérias, as transforma em laboratórios naturais de importância internacional.
Foram descritos dezenas de sítios arqueológicos. A região possui sítios históricos relacionados às primeiras povoações brasileiras, que nos remetem ao descobrimento do país, à exploração do pau-brasil, à invasão francesa em Cabo Frio e ao caminho dos Jesuítas. Museus apresentam aspectos históricos, culturais e científicos. Ainda, na região, foi registrada a passagem de naturalistas como Charles Darwin, príncipe Maximiliano de Wied-Neuwied e Saint-Hilaire.
Destacam-se ainda as salinas como patrimônio geomineiro e cuja operação permanece quase a mesma desde o século XIX. Notáveis são os faróis, as histórias dos naufrágios, as construções tombadas e lendas e mitos contadas pela população caiçara. O turismo fomenta intensa atividade de pesca subaquática e esportes náuticos, bem como gastronomia típica e um sistema hoteleiro diversificado.
A região ainda possui rede estabelecida de Educação Ambiental envolvendo comitê de bacia, prefeituras, escolas e ONGs.
Ainda é possível encontrar na região núcleos preservados de vegetação de restinga, um dos biomas mais ameaçados do país. A fauna e flora da região são reconhecidas por sua raridade e, por este motivo, foram criadas Unidades de Conservação - UCs de Proteção Integral e Desenvolvimento Sustentável. A título de exemplo, vale citar a vegetação classificada como a estepe arbórea aberta da região entre Arraial do Cabo e Armação dos Búzios, o mico-leão-dourado e a descoberta, em 2011, de uma nova espécie de mamífero na região, no território do Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba, denominado de ratinho-goytacá (Cerradomys goytaca). Recifes de coral constituem, ainda, importante ecossistema em Armação dos Búzios.
A principal atividade econômica da região está na indústria do petróleo, uma vez que a área compreende a importante região produtora da Bacia de Campos e parte da Bacia de Santos, cujo limite encontra-se no alto estrutural de Cabo Frio. Soma-se, ainda, o importante setor de serviços, em particular ao relacionado ao turismo na denominada região da Costa do Sol. Nas porções mais interiores dos municípios, a agropecuária desempenha importante papel, somada ao do turismo rural.
Com extensão territorial de 10.900 km2 e uma densidade demográfica de, aproximadamente, 145 habitantes/ km2, a área apresenta uma densidade demográfica média menor, se comparada à do Estado do Rio de Janeiro, que atinge 365 habitantes/km2. A maioria da população vive nas áreas urbanas.
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